A principal justificativa das secretarias municipais de educação diz respeito ao número insuficiente de estudantes nos povoados o que reduz a entrada dos recursos na escola. Como as mesmas têm como base de seu financiamento o índice de alunos matriculados em cada unidade escolar, alega-se que fica inviável aos cofres públicos o funcionamento das mesmas. Desse modo, para remediar a situação, opta-se pela nucleação das escolas no campo da região ou pela matrícula dos estudantes nas sedes do município, com o transporte garantido pela prefeitura.
Diante dessas constatações dois problemas podem ser levantados para a discussão e o enfrentamento prático da questão: o primeiro diz respeito a própria política de financiamento da educação básica que articula matrícula/aluno/dinheiro na escola; e o segundo, é o próprio esvaziamento das pessoas que moram no campo, mas que permanecem trabalhando nele como assalariados e não mais como pequenos proprietários.
A Região de Irecê localiza-se no semiárido baiano. Com uma área de 26.730 km², corresponde a 4,6% da superfície do estado da Bahia. A cidade de Irecê, que é o pólo comercial e administrativo local, é conhecida como a capital do feijão, título não mais sustentado há algum tempo. Na atualidade é o plantio irrigado do tomate, da cebola, da cenoura e da fruticultura que respondem pela base econômica na região e os problemas com os aquíferos subterrâneos e o uso abusivo de agrotóxicos. Além da agricultura, a presença de indústrias mineradoras que exploram o fosfato e outros minerais, bem como o plantio da mamona para a indústria do agrocombustível vêm se destacando na região e atraindo a presença de investimentos nacionais e estrangeiros.
Os processos de produção na região têm feito com que os agricultores realizem um movimento de migração local transferindo-se das áreas rurais para as periferias das sedes dos municípios. Contudo, boa parte dos pais, para manter o sustento de suas famílias, não perde o vínculo de trabalho na terra, seja pelo fato destes continuarem trabalhando como diaristas no plantio e colheita nas plantações irrigadas por médios e grandes produtores de tomate, cebola, cenoura, ou fruticultura; seja, no caso dos homens, na busca do trabalho na colheita agrícola na região oeste da Bahia, no sudeste ou centro-oeste do país.
Sem moradores no campo, a justificativa para o fechamento das escolas ganha ainda mais força nas secretarias municipais. Isso reforça a necessidade do enfrentamento à questão não apenas no âmbito da política educacional, mas também na luta pela efetivação da reforma agrária no Brasil.
Esperamos que essa pequena colaboração some-se a outras iniciativas pelo Brasil na defesa do direito à educação dos trabalhadores no campo.
Fonte: Prof. Cláudio F. dos Santos e Estudantes do curso de Pedagogia da Uneb Irecê
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